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domingo, 13 de janeiro de 2008

RESPOSTA - Pedir Perdão ao Povo Negro

Para
Sr. Hernani da Silva

Prezado irmão:
O Pastor Presidente Dr. Walter Altmann agradece por sua mensagem enviada em 30/01/2006. Pediu-me responder que estamos dispostos a avaliar em conjunto, com igrejas-irmãs, a possibilidade de uma declaração conjunta com pedido de perdão ao povo negro.
Em todo caso, ainda que de forma modesta, a IECLB já se tem pronunciado sobre este assunto e outros correlatos. Para sua informação envio dois textos: "Deus não é racista", e a Declaração da IECLB alusiva aos 180 anos de suas primeiras comunidades.
No mais, encaminhamos o assunto ao Grupo Assessor para Questões de Responsabilidade Pública.
Com votos de bênçãos para sua vida e suas tarefas,
fraternalmente,

Johannes F. Hasenack
Assistente da Presidência


Prezado Pastor Walter Altmann, Prezado Johannes F. Hasenack

Inicialmente quero compartilhar a nossa alegria em ver o Pastor Presidente Dr. Walter Altmann sendo eleito o Principal Moderador do Conselho Mundial de Igrejas, órgão máximo do CMI entre as Assembléias. Dando grande visibilidade à igreja brasileira. Parabéns!

Ficamos felizes com a vossa resposta. Esperançosos com a possibilidade de darmos um passo para um acontecimento histórico e profético. Também ficamos muito confortados em conhecer os documentos: "Deus não é racista", e a Declaração da IECLB alusiva aos 180 anos de suas primeiras comunidades.

Estamos a disposição para construir (juntos), conforme vossa sugestão, de avaliar em conjunto, com igrejas-irmãs, a possibilidade de uma declaração conjunta com pedido de perdão ao povo negro. Também de articular outras organizações do Movimento Negro Evangélico para a construção dessa proposta.

Temos duas datas oportunas para realizar uma ação como essa. Em 13 de maio, onde se comemora a abolição da escravatura. Também temos 20 de novembro dia da consciência negra, data que realizamos a SENECON – Semana Nacional Evangélica de Consciência Negra. Ou outra data que as igrejas envolvidas na declaração achar melhor.

A sua resposta nos traz esperança. A esperança precisa ser sustentada e fortalecida. A esperança precisa ser espalhada.

Muita Paz e Esperança em sua vida profética.

Fraternalmente,

Hernani Francisco da Silva – Presidente da Sociedade Cultural Missões Quilombo

E o pedido de perdão ao povo Negro? "lugar onde o passado nunca morre"

Festa no cemitério resgata tradição de confederados. E o pedido de perdão ao povo Negro?

Na cidade de Santa Bárbara D’Oeste, no interior paulista, acontece uma festa intitulada Festa Confederada Brasil/Estados Unidos, que atrai milhares de pessoas. O motivo da festa é o resgate das tradições e da cultura dos imigrantes sulistas dos Estados Unidos. A festa acontece uma vez por ano, o curioso que é realizada no pátio do cemitério. Em seus 20 anos de realização já recebeu a visita de vários americanos, entre os quais o ex-presidente Jimmy Carter e a esposa Rosalyn, que tem um tio-avô enterrado no local. A história dessa celebração no cemitério está ligada às imigrações de famílias americanas do Sul dos Estados Unidos para o Brasil, a partir do ano de 1867, após o fim da Guerra da Secessão travada entre os Estados do Sul e Norte do país. Dessa imigração, de cerca de 9 mil pessoas, originou-se a comunidade de imigrantes sulistas.

A idéia de encontrar terras em abundância com mão-de-obra escrava certamente foi decisivo para que famílias inteiras, acostumadas a um estilo de vida escravista, se deslocassem do sul dos EUA para o sudeste brasileiro. A pós a derrota dos Confederados um grande número deles emigrou para o Brasil. Centenas de famílias, em São Paulo fixadas quase todas em Santa Bárbara d`Oeste e seus arredores, eram em sua maioria, presbiterianos, metodistas e batistas. Entre eles se encontravam vários pastores destas denominações. Estes missionários sulistas conservaram-se por muito tempo fieis à lembrança de sua causa nacional. Uma das missionárias com o nome de Charlotte Kemper, da Missão de Nashville, que se inspirava no exemplo de Stonewall Jackson, um dos heróis Confederados: “ele não se rendeu, Miss Charlotte também não se renderá...”. Um outro desses missionários sulistas se havia conservado tão firme em suas convicções que, quando em 1886, o pastor brasileiro Eduardo Carlos Pereira publicou um livreto em favor da abolição e condenando a escravidão, ele escreveu um verdadeiro tratado ant-abolicionista e escravagista.

Em 1845, os batistas norte-americanos separaram-se conforme o posicionamento contra a escravidão. Organizou-se a Convenção Batista do sul para abrigar as igrejas que admitiam o trabalho escravo, representando delegações de oito estados do sul escravista. Foi a Convenção Batista do Sul dos EUA que estabeleceu a Denominação Batista em solo brasileiro. Na colônia de Santa Bárbara D’Oeste encontravam-se muitas famílias batistas. No Brasil, os primeiros colonos batistas eram favoráveis e foram proprietários de escravos. Em Santa Bárbara D’Oeste, primeiro núcleo batista, o trabalho escravo existiu como mão-de-obra usada na agricultura e em tarefas domésticas. Os colonos batistas eram senhores de escravos, a exemplo da Senhora Ellis, dona de um sítio e que providenciara hospedagem nos primeiros meses ao casal de missionários W. Bagby, fundador da Primeira Igreja Batista do Brasil. Conforme o diário da Senhora Bagby, “depois de dormir uma noite na Capital Paulista, os missionários tomaram o trem para Santa Bárbara, onde chegaram sob forte aguaceiro. Na estação os aguardavam os enviados da Sra. Ellis, com dois cavalos e um escravo, para carregar a bagagem. A estrada até o sítio estava bem lamacenta mas ao chegar, foram carinhosamente recebidos.”

O fundamentalismo das denominações protestantes dos EUA se transformou em terreno fértil para justificativas da escravidão, que buscavam embasamento doutrinário para apaziguar a consciência dos escravocratas do sul. Citando a história de Noé, identificavam a maldição de Cam, por ter surpreendido o patriarca nu e embriagado, como a maldição dos negros. “Os Teólogos racistas acrescentaram que os negros descendem de Cam e, portanto estão condenados à servidão e à escravidão permanentes.

Com essas interpretações bíblicas que garantiam conforto dos corações e a “tranqüilidade de consciência” de seus fiéis escravocratas. Usando a bíblia eles cometeram esse grave crime contra ao Povo Negro. Durante quatro séculos, através do tráfico negreiro, esvaziaram a África de seus homens mais robustos, das mulheres mais sãs, das moças e crianças mais belas. Foram separados de suas famílias, para que apagassem da memória suas lembranças e sua identidade cultural. Estima-se que o tráfico custou a liberdade a trinta milhões de pessoas deportadas para as Américas, sem contar as que morreram no momento da captura, na triagem ou nos navios. Como mercadorias eram transportados em navios negreiros, que chegavam a levar 600 africanos amontoados nos porões, acorrentados uns aos outros em condições sub-humanas. Na parte superior dos navios, muitas vezes, se ouvia os hinos cantados nos cultos, muito deles em celebrações pela carga de cativos conquistada.

Chegando aqui foram explorados nas lavouras e nos engenhos de cana-de-açúcar e de café, e a qualquer manifestação de rebeldia eram amarrados ao tronco e sofriam todo tipo de tortura. Como reação a essa humilhação, aumentou o número de fugas, e a melhor forma de resistência foi a organização dos quilombos.

Voltando a festa que acontece em Santa bárbara organizada pela Fraternidade Descendência Americana, no cemitério, onde os descendentes realizam reuniões a cada trimestre para discutir assuntos relacionados à Fraternidade. “Esta festa é o momento da confraternização entre os descendentes dos imigrantes, que chegaram em nossa região por volta de 1867”, relata Noemia Alice Cullens Pyles, tesoureira da Fraternidade Descendência Americana.

Tudo isso nos faz lembrar do escritor William Falkner, que uma vez chamou seu Estado natal, o Mississipi, de o "lugar onde o passado nunca morre".Através de um plebiscito realizado no dia 17 de abril de 2001, a ampla maioria dos eleitores do Estado do Mississipi optou em manter sua bandeira de 107 anos de idade, que ostenta, em seu canto superior esquerdo, o símbolo utilizado pelos sulistas (confederados) na Guerra Civil norte-americana, a Guerra de Secessão, ocorrida entre 1861 e 1865, que deixou um saldo de 600 mil mortos. A cruz azul contendo 13 estrelas brancas é considerada uma referência ao passado racista dos Estados Unidos, já que os sulistas lutavam pela manutenção da mão-de-obra escrava, que sustentava a riqueza dos latifundiários agro-exportadores de tabaco e algodão. Hoje essa cruz azul é encontrada nos encontros da Fraternidade Descendência Americana em Santa Bárbara.

Algumas perguntas que precisam de respostas ou pelo menos alguma reflexão: nestes 20 anos de festas comemorativas os confederados de Santa Bárbara já pediram publicamente perdão ao Povo Negro pela escravidão e racismo praticado pelos seus antepassados? Os filhos dos confederados tem refletido esse passado de opressão e racismo contra o Povo Negro? A Fraternidade Descendência Americana nunca pensou que o uso da cruz azul contendo 13 estrelas brancas é considerada uma referência ao passado racista para o povo negro brasileiro? Os crentes sulistas de Santa bárbara ainda tem a escravidão do Povo Negro como instituída por Deus? Se não, porque não fizeram reparação do erro, com pedido de perdão, reconciliação, e com indenização?

Se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e depois virás apresentar a tua oferta. Mateus 5, 23-24

Hernani Francisco da Silva

Presidente da Sociedade Cultural Missões Quilombo
Coordenador do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas
Membro do Movimento Negro Evangélico – MNE

Referencias biográfica:

O Protestantismo Brasileiro – Émile G. Léonarde – Editora Juerp e Aste

Sons of Confederate Veterans: www.scv.org/Camp1653/pindex.htm

Revista de Estudos da Religião - Nº 1 / 2003 / pp. 1-26 ISSN 1677-1222

Jornal Palavra – ano 9 Nº 116 2005 http://www.jornalpalavra.com.br/




quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Perdão ao povo negro pela escravidão e racismo praticados pelos seus antepassados.



Uma festa em cemitério pode soar estranho, mas ela acontece no calendário turístico do Estado de São Paulo. O Cemitério do Campo é o palco de comemoração anual promovida pela Fraternidade Descendência Americana em Santa Bárbara D'Oeste, município de 172 mil habitantes, localizado a 138 Km a noroeste da capital, São Paulo.

"É tudo uma questão de costume. Meus netos pulam de alegria quando os convidamos para a festa", afirma Noemia Alice Cullens Pyles, 59 anos, tesoureira da Fraternidade. Na verdade, a festa acontece num pátio localizado ao lado da capela, mas dentro do cemitério.

Na festa (a próxima já está agendada para o dia 9 de abril de 2006), o pátio do cemitério ganha barracas que servem comidas típicas norte-americanas, como "hot dog" e "biscuit". Moças em trajes típicos e rapazes vestindo o uniforme do soldado confederado apresentam-se na "square dance", uma espécie de quadrilha executada junto a uma bandeira confederada.

Para o presidente da Sociedade Cultural Missões Quilombo e coordenador do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas, Hernani Francisco da Silva, em nenhum momento nesses 20 anos de festas comemorativas os descendentes de norte-americanos residentes em Santa Bárbara D'Oeste pediram perdão ao povo negro pela escravidão e racismo praticados pelos seus antepassados.

"Minha família nunca teve escravo. Da minha parte não caberia tal pedido de perdão. E os que vieram dos Estados Unidos não trouxeram nenhum escravo consigo. Mas se alguém teve escravos aqui e se a consciência mandar, a esse cabe fazê-lo", reagiu a tesoureira da Fraternidade. Ela entende que quem iniciou a escravidão no país foi o Império brasileiro, a quem caberia pedir perdão a povo negro.

Santa Bárbara D'Oeste recebeu, depois da Guerra da Secessão, nos Estados Unidos (1861-1865), imigrantes norte-americanos que se estabeleceram na região e passaram a cultivar lavouras de cana-de-açúcar, laranja, e desenvolveram atividades industriais.

Em 1866, Santa Bárbara D'Oeste abrigou as primeiras 93 famílias norte-americanas. Estima-se que cerca de dez mil sulistas deixaram o país em 1866 e 1867, dos quais aproximadamente duas mil vieram ao Brasil, dirigindo-se ao litoral e o interior paulista, a maioria de origem batista, episcopal, presbiteriana e metodista.

O Cemitério do Campo nasceu nas terras do Coronel Oliver. Ele perdeu a mulher, Beatrice Oliver, em 13 de julho de 1868, vítima de tuberculose. Beatrice não pôde ser sepultada no cemitério da localidade, pois, como rezavam as leis de então, não eram permitidos sepultamentos de pessoas não-católicas nos campos santos.

O coronel Oliver decidiu seguir a tradição do sul dos Estados Unidos, e sepultou a esposa nos fundos da fazenda. Menos de um ano depois, o coronel perdeu duas filhas, também vitimadas pela tuberculose, e que foram enterradas junto à mãe.

A partir de então, todo norte-americano que falecia na localidade era enterrado no Cemitério do Campo, hoje uma área de 15 mil metros quadrados que abriga 400 túmulos. Em 1871, imigrantes norte-americanos construíram uma capela no cemitério e fundaram, em 1954, a Fraternidade, que se define como uma entidade filantrópica e cultural, sem fins lucrativos, promotora da Festa Confederada.

O objetivo das festas promovidas pela Fraternidade é um só: manter o cemitério. As festas reúnem mais de 1,5 mil pessoas a cada ano, quando os organizadores arrecadam, líquido, algo em torno de 2 mil reais (cerca de 820 dólares). "As danças que ali são apresentadas é só para que a festa fique mais bonita", garante Noemia Pyles.

O costume de as famílias se encontrarem no cemitério tem mais de cem anos. No passado, os descendentes de norte-americanos deslocavam-se aos domingos até o Cemitério do Campo para ouvir o pastor. Como o cemitério ficava a 10 Km do centro da cidade e a locomoção na época era feita a cavalo, as famílias já aproveitavam o domingo para almoçar juntas e confraternizar.

Noemia Pyles conta, com orgulho, que até o ex-presidente Jimmy Carter, quando era governador da Geórgia, visitou o cemitério, junto com a sua mulher. Passeando entre os túmulos, Rosalyn Carter encontrou a sepultura de um tio-avô que veio ao Brasil e do qual nunca mais tivera notícia. Surpresa, ela descobriu que o parente estava ali enterrado.

Edelberto Behs, SÂO PAULO, Brasil, Outubro 25, 2005

Fonte: ALC

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Pedir perdão ao povo negro



O Sínodo Geral da Igreja Anglicana estuda pedir desculpas pela participação da igreja, no passado, no comércio de escravos, devido à celebração do segundo centenário do fim deste comércio. Segundo o reverendo Simon Bessant, da diocese de Blackburn, noroeste da Inglaterra, a igreja deveria "confessar seu pecado perante Deus" e reconhecer sua "participação ativa" na escravidão e o dano causado aos escravos e a seus herdeiros. A Igreja, através de sua filial missionária, foi dona de uma plantação em Barbados.
Os escravos do local eram marcados como gados no peito com a palavra "Sociedade", referente à Sociedade para a Propagação do Evangelho no Estrangeiro. Ainda conforme as palavras do reverendo Simon Bessant, os donos da plantação recebiam uma indenização por libertar os escravos, e de fato o bispo de Exeter recebeu centenas de libras por este motivo.

"Reconheço que uma desculpa agora é difícil porque faz muito tempo que ocorreu, mas a Igreja Anglicana foi parte deste problema e deveríamos reconhecê-lo", disse Bessant.

Aqui no Brasil as igrejas históricas protestantes também estavam envolvidas no "nefando comércio humano". Muitos protestantes, pastores e membros, eram proprietários de escravos que utilizavam como mão-de-obra doméstica ou em alguns empreendimentos. Em 1835, durante a revolta dos escravos malês, ocorrida em Salvador, dos 160 acusados, 45 eram escravos de ingleses residentes no bairro da Vitória. Em testamentos e inventários de anglicanos que morreram na Bahia na segunda metade do século XIX, constatou-se também a presença de proprietários de escravos, tais como os senhores Eduardo Jones que tinha 6 escravos domésticos; o Sr. George Mumford que possuía 11 escravos que trabalhavam na sua roça no Acupe e Sr. George Blandy, que possuía 4 escravos.

A Igreja Anglicana no Brasil foi conivente com o comércio de escravos em que a Inglaterra esteve envolvida desde o século XVI. Houve uma espécie de anuência ou acomodação diante do fato, isto é, por parte de comerciantes anglicanos, sua participação como membros, ao comercializar e possuir escravos. No seu relato sobre o Brasil, o Rev. Robert Walsh, capelão anglicano que acompanhou a missão inglesa do Lord Strangford, entre 1828 e 1829, descreve e opina a respeito da escravidão no Brasil, nada deixou mais chocado o clérigo do que constatar que seus concidadãos ingleses participavam e usufruíam do "nefando comércio", lucrando com a escravização de mulheres e de seus próprios filhos, como presenciou na estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro, relata: "ele passa a vender não só a mãe de seus filhos como os filhos propriamente ditos, e com tanta indiferença como se tratasse de uma porca com a sua ninhada"

Os anglicanos da Christ Church, situada no Rio de Janeiro, não só eram donos de escravos, como fizeram batizar nos ritos da Igreja Anglicana os pequenos escravos nascidos em seu poder. Seguindo uma prática dos senhores de escravos brasileiros que batizavam suas peças aos montes, dando-lhes nomes cristãos, os anglicanos também buscaram cristianizar seus escravos. No livro de registros de batismo da Christ Church em 24 de janeiro de 1820, está assentado o batismo de "Thereza, filha de Louisa -escrava negra, nativa de Manjoula, África- propriedade de James Thonton", um comerciante inglês. Em 11 de maio de 1820 foram batizados 11 escravos do fazendeiro Robert Parker. Na Igreja que se reunia em Morro Velho, sua congregação possuía escravos e alguns chegaram também a ser batizados. Há registros de batismos de escravos domésticos de John Alexander em 1830 e do Coronel Skerit em 1833.

Não foram só os Anglicanos coniventes com a escravidão negra no Brasil. Outras igrejas históricas também participaram dela. Os primeiros colonos batistas eram favoráveis e foram proprietários de escravos. Em Santa Bárbara D’Oeste, primeiro núcleo batista, o trabalho escravo existiu como mão-de-obra usada na agricultura e em tarefas domésticas. Os colonos batistas eram senhores de escravos, a exemplo da Senhora Ellis, dona de um sítio e que providenciara hospedagem nos primeiros meses ao casal de missionários W. Bagby, fundador da Primeira Igreja Batista do Brasil. Os metodistas, defensores dos direitos humanos e da abolição do escravismo na Inglaterra e nos EUA, ao chegarem no Brasil acomodaram-se ao ambiente escravista e quase nada fizeram com repercussão pública, em favor dos escravos. Conforme um estudo sobre o metodismo brasileiro durante o período que antecedeu, ou mesmo depois da "libertação dos escravos," a Igreja Metodista jamais chegou a defender oficialmente sua posição em relação à escravidão no Brasil. Os primeiros Presbiterianos, também sulistas, conservaram-se por muito tempo fiéis à lembrança de sua causa nacional, um destes missionários presbiteriano sulista se havia conservado tão firme em suas convicções que, quando em 1886 o presbiteriano Eduardo Carlos Pereira publicou uma brochura em favor da abolição da escravatura, ele escreveu um verdadeiro tratado anti-abolicionista. Dos luteranos sabemos que os primeiros escravos negros da Colônia Alemã Protestante de Três Forquilhas entraram por volta de 1846, por iniciativa do pastor Carlos Leopoldo Voges. Outros colonos protestantes copiaram seu exemplo (Mittmann, Hoffmann, König, Grassmann, Kellermann, Jacoby, Schmitt e outros).

O fundamentalismo das denominações protestantes dos EUA se transformou em terreno fértil para justificativas da escravidão, que buscavam embasamento doutrinário para apaziguar a consciência dos escravocratas do sul. Citando a história de Noé, identificavam a maldição de Cam, por ter surpreendido o patriarca nu e embriagado, como a maldição dos negros. Os principais agentes da imigração norte-americana para o Brasil foram pastores protestantes do Sul dos EUA, a exemplo do Rev. B. Dunn, que via no Brasil uma nova Canaã, a terra prometida onde os confederados derrotados na Guerra de Secessão poderiam reconstruir suas vidas, seus lares e suas propriedades incluindo a mão-de-obra escrava. Pelo menos cerca de 2000 a 3000 sulistas se deslocaram para São Paulo. O aceno de encontrar terras em abundância com mão-de-obra escrava certamente foi decisivo para que famílias inteiras, acostumadas a um estilo de vida escravista, se deslocassem do sul dos EUA para o sudeste brasileiro.

De uma maneira geral os protestantes no Brasil só tomaram uma posição contra a escravidão quando à abolição já era unanimidade na sociedade brasileira. Mesmo os poucos protestantes que se posicionaram favoráveis à abolição o faziam como uma questão moral e religiosa. Eram incapazes de atitudes mais concretas, que de fato propiciassem soluções ao problema do escravismo, que até os nossos dias tem gerado grandes conseqüências, onde grande parte da população negra vive a margem da sociedade. Os negros se viram largados no interior de uma sociedade fundada em bases racistas. Libertos foram preteridos do mercado formal de trabalho em nome de um projeto elitista de branqueamento do país. Tiveram que disputar com o imigrante europeu até mesmo as mais modestas oportunidades de trabalho livre, como a de engraxate, jornaleiro ou vendedor de frutas e verduras, transportadores de peixe e carregadores de sacas de café, etc. As mulheres garantiram a sobrevivência da família trabalhando, tanto ontem como hoje, como domésticas, faxineiras, babás, doceiras, cozinheiras, lavadeiras e outras atividades similares. E a igreja ainda no seu silêncio.

Essa é uma grande oportunidade para denominações evangélicas históricas brasileiras pedirem perdão ao povo negro, seguindo o exemplo dos anglicanos da Inglaterra. O desafio, o testemunho cristão, é o pedido de perdão ao povo negro que aqui propusemos. Finalmente, desejamos convidar nossos irmãos e irmãs das Igrejas Históricas para que reflitam todas essas questões. Para que as igrejas Históricas possam passar de um simples "ministério de omissão" para um ministério de envolvimento e participação na luta do povo negro para a sua libertação, e cumprimento da sua missão de Igreja de Jesus Cristo aqui na terra.



Lista de Igrejas e lideranças a quem enviamos o documento:

IEAB
Ao Sr. Bispo Primaz
Dom Orlando Santos de Oliveira,

A Secretaria Executiva do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil
Sr. Rev. Ludgero Bonilha Morais, Secretário Executivo do SC

Igreja Presbiteriana Unida do Brasil
Moderador: Rev. Gerson Antônio Urban

Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
Diretoria da Assembléia Geral da IPIB
Presidente Rev. Assir Pereira

Igreja Evangélica Luterana do Brasil
A/C Diretoria Nacional Rony Marquardt, Mário Lehenbauer, Carlos W. Winterle, Paulo K. Jung, Moacir Guenther.

Igreja Metodista
Colégio Episcopal
Bispo Josué Adam Lazier - 4a Região
Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann - 1a Região
Bispo João Carlos Lopes - 6a Região
Bispo Luiz Vergílio da Rosa - 2a Região
Bispo João Alves de Oliveira Filho - 5a Região
Bispo Presidente a mesa do Colégio Episcopal
Bispa Marisa de Freitas Ferreira Coutinho - REMNE
Bispo Adriel de Souza Maia - 3a Região
Bispo Adolfo Evaristo de Souza - CMA
Reverendo Stanley da Silva Moraes
Secretário Executivo do Colégio

Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
Pastor Presidente P. Dr. Walter Altmann

Ao CONIC
Presidente Bispo Adriel Souza Maia
Secretaria Executiva Pr. Ervino Schmidt

CLAI - BRASIL - O Conselho Latino Americano de Igrejas
Secretário Regional: Rev. Luiz Caetano Grecco Teixeira

Bibliografia

O Protestantismo Brasileiro - Leonard, Émile-Guillaume - JUERP/ASTE,1981
CHURCH TIMES - www.churchtimes.co.uk
Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2003





Por Hernani Francisco da Silva
Presidente da Sociedade Cultural Missões Quilombo



Fonte: Adital

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